Para entender o Caso Americanas e as proporções e dimensões refletidas no varejo, é importante conhecer o contexto no qual a Americanas está inserida e um pouco de sua história ao longo dos anos. Neste texto, vamos contar o que podemos aprender com o Caso Americanas e seus principais impactos no varejo.
A Americanas era uma das maiores referências no setor varejista e se consolidou como uma das maiores redes do Brasil, conquistando a confiança dos consumidores. Sua primeira loja foi inaugurada em 1929 e, como toda empresa, com o passar dos anos, enfrentou diversas transformações e desafios significativos.
Os anos 90 foram de grande importância para o grupo. No ano de 1994, a Americanas efetivou a formação de uma joint venture em parceria com o grupo Wal Mart (atual Walmart), dos Estados Unidos. Já no final da década de 1990, a Americanas dá, novamente, um passo relevante em sua trajetória, na qual em 1999, inicia o serviço de vendas online, através do site Americanas.com.
Após breve período experimental, o portal teve lançamento realizado no ano de 2000. Ao longo da primeira década do novo milênio, a marca buscou aumentar e tornar sua participação no online cada vez mais relevante. Em 2005, o grupo adquiriu o Shoptime e o Ingressos.com, e, no ano seguinte, incorporou também o site Submarino.
Com esta operação, houve a formação da empresa B2W, que centralizou o comércio eletrônico do grupo e funcionou até 2021, quando se fundiu com a Lojas Americanas S.A., criando assim uma única empresa, chamada Americanas S.A. Também em 2021, o trio de sócios majoritários abriu mão do controle societário da Americanas, se transformando em acionistas de referência.
Nos últimos anos, a Americanas tem se destacado por buscar parcerias estratégicas e investimentos em startups e empresas de tecnologia. Essas parcerias têm permitido à empresa inovar em áreas como logística, inteligência artificial e automação de processos.
Atualmente, a companhia possui cerca de 3,6 mil lojas no Brasil, com atuação de aproximadamente 200 no Rio Grande do Sul. A empresa ainda emprega por volta de 44 mil funcionários em todo o país. Em setembro de 2022, de acordo com o Ranking Ibevar-FIA, a Americanas era a quinta maior varejista do Brasil, com faturamento anual de R$ 32,2 bilhões.
Recentemente, neste ano, a companhia enfrentou um dos maiores desafios de sua história quando foi revelado um rombo contábil em suas demonstrações financeiras. Esse caso abalou não apenas a reputação da empresa, mas também trouxe impactos significativos para o setor varejista como um todo, devido à sua referência.
O caso veio à tona quando uma auditoria externa encontrou discrepâncias significativas entre os registros contábeis e a realidade financeira da empresa. Essas discrepâncias revelaram que a Americanas havia superestimado seus ativos e subestimado suas obrigações, apresentando uma distorção dos números em suas demonstrações financeiras.
Entre diversas consequências para a empresa, uma delas foi a perda da confiança dos investidores da companhia e do setor, que viram suas ações despencarem na bolsa de valores em pouquíssimo tempo. Além disso, houve uma diminuição drástica na credibilidade da empresa perante os clientes, fornecedores e parceiros de negócio.
Para o setor de varejo geral, o impacto não foi diferente, houve uma perda de confiança generalizada. Os investidores se tornaram mais cautelosos na hora de investir em empresas do ramo varejistas, temendo a possibilidade de problemas contábeis semelhantes em outras organizações. Isso levou a diversas discussões em relação a redução dos investimentos no setor, podendo gerar dificuldade de acesso a recursos financeiros para o crescimento e expansão das empresas varejistas.
O impacto do rombo contábil na Americanas também se estendeu aos fornecedores e parceiros de negócio. A quebra de confiança resultante do caso levou muitos fornecedores a reconsiderar suas relações com a empresa e adotar medidas mais rigorosas para proteger seus interesses. Isso incluiu a revisão de termos contratuais, ajustes de prazos de pagamento e até mesmo o cancelamento de contratos. Essas mudanças afetaram a cadeia de suprimentos do varejo.
O setor varejista, diante disso, procurou fortalecer as práticas de governança corporativa e os controles internos. Algumas das empresas varejistas revisaram seus procedimentos contábeis e financeiros, buscando garantir a integridade e a transparência de suas informações. Muitas delas também investiram em auditorias externas independentes para garantir a precisão de suas demonstrações financeiras.
Além disso, o setor varejista viu a necessidade de adotar uma postura mais proativa em relação à comunicação com seus stakeholders. A importância de manter um diálogo aberto e transparente com investidores, clientes, fornecedores e parceiros de negócio, demonstra compromisso com a ética empresarial e a responsabilidade financeira.
Diante deste cenário, é importante avaliar e entender algumas lições que podem ser aprendidas com o caso Americanas, tanto no setor de varejo, quanto em outros setores.
Lição #1 Comunicação transparente e posicionamento: A comunicação transparente é um dos pilares de uma boa gestão empresarial, principalmente em momentos de crise. É essencial para a imagem das empresas ter um posicionamento assertivo em um momento como este. A Americanas reconheceu prontamente o ocorrido, pediu desculpas públicas e assumiu a responsabilidade pelos acontecimentos. A empresa se comprometeu a implementar medidas para evitar a repetição de episódios semelhantes no futuro. Através de comunicados claros e honestos, a Americanas buscou mostrar seu comprometimento com a ética e o respeito aos seus colaboradores e clientes.
Lição #2 Compromisso com o bem-estar dos funcionários: Uma boa gestão empresarial se preocupa com o bem-estar dos funcionários, reconhecendo-os como um dos principais ativos da empresa. A Americanas, diante do incidente revisou suas políticas internas de recursos humanos e implementou treinamentos voltados para o respeito e a valorização dos colaboradores. Ela buscou posturas que reforçassem o compromisso da empresa com seus colaboradores dentro das possibilidades do contexto.
Lição #3 Importância da contabilidade como base de uma gestão financeira e da tomada de decisão: A contabilidade é um setor fundamental para a gestão correta e transparente de qualquer empresa, independentemente de seu porte ou setor de atuação. Ela desempenha um papel essencial na organização, registro e análise das transações financeiras de uma empresa, proporcionando informações valiosas para a tomada de decisões estratégicas. Ela permite que os gestores avaliem o desempenho financeiro da organização, identifiquem tendências e oportunidades de crescimento, e realizem projeções futuras. Através da análise de indicadores financeiros, como margem de lucro, retorno sobre o investimento e rentabilidade de produtos, a empresa pode identificar quais áreas são mais lucrativas e quais podem ser otimizadas.
Lição #4 Responsabilidade social corporativa é relevante: A boa gestão empresarial vai além dos resultados financeiros e abrange também a responsabilidade social corporativa. Nesse sentido, a Americanas aproveitou o caso para reforçar seu comprometimento com a comunidade e os valores sociais. A empresa anunciou a criação de um programa de responsabilidade social que irá apoiar instituições voltadas para a defesa dos direitos humanos e o combate ao abuso e à violência.
Lição #5 Criação de um plano: a criação de um plano bem estruturado e pensando nas diversas perspectivas da empresa é essencial para uma retomada diante de um cenário de crise, seja ele grave ou não. Entender os cenários e fazer uma análise de risco de cada um deles torna a tomada de decisão mais assertiva.
Casos como este podem ser uma grande fonte de lições aprendidas para o setor e para empresas de outros segmentos. E você, consegue aplicar algum destes aprendizados na sua empresa?