Velho mundo, Novo Mundo. Duas palavras serão fundamentais para lidarmos na nossa vida daqui para frente separando o velho mundo (até 2019) do Novo Mundo (a partir de agora): adaptação para o hoje e reinvenção para o amanhã. Até termos uma visão melhor do que está acontecendo e ainda vai acontecer é preciso se adaptar da melhor forma possível, e isso sem dúvida inclui o outro. Na reinvenção imagino que tenhamos que abrir mão da forma como temos feito as coisas (o como), além dos motivos que entrarão em xeque (o porquê) e sem dúvida isso interferirá no que vamos fazer daqui para frente (o que).
Os povos criados a partir de crises importantes são mais fortes e aprendem os valores coletivos mais rapidamente, dos quais nunca devemos nos esquecer. Exemplos como Alemanha, Japão, China ou Estados Unidos são sempre lembrados por aqui em função de crises financeiras, guerras, ou desastres da natureza que eles viveram por lá. Parece que somos bons de história geral. Tenho ouvido que, porque não temos este tipo de mazela no Brasil, não somos um povo preparado para lidar com momentos de crises. Tenha a santa paciência! Vivemos sempre em momentos difíceis por aqui, e temos sim nossas guerras próprias. Muitas vezes invisíveis aos olhos insistentemente desatentos de nós mesmos. Parece que não somos tão bons em história do Brasil.
A cada minuto na minha timeline das redes sociais ou grupos de WhatsApp – que deixei de acompanhar em tempo real para ver apenas uma vez por dia – entendo que agora estamos tentando perceber melhor isso. Sim, morrem no Brasil mais de 36 mil pessoas por ano por acidente de trânsito, e temos sim, mais de 65 mil casos de estupros registrados a cada 12 meses (infelizmente este número tende a ser maior pelos casos não registrados). Temos lamentavelmente sim, mais de 41 mil assassinatos no Brasil (mesmo que em 2019 este número tenha caído 19%) e claro que também temos por ano 1,5 milhões de pessoas com dengue, e isso realmente é muito grave. Temos nosso problema endêmico grave que é a corrupção entranhada nas nossas instituições e entre nossos políticos e governantes além da pobreza, desigualdade social e fome em números de guerra. Mesmo vendo isso insistimos em desacreditar em nós, brasileiros, que duvidávamos até semana passada que teríamos êxito para lidar com a quarentena, pois não somos disciplinados o suficiente. Estamos vendo que não é por aí. Rapidamente reagimos coletivamente e cuidando uns dos outros. Em 2001 a dúvida era a mesma, se conseguiríamos lidar com a crise energética. Tivemos blecautes e muitas cidades e casas ficaram às escuras, mas mobilizados fomos e resultados entregamos. Conseguimos com mudanças de hábitos passar por aquilo e entendemos inclusive que era possível viver com menos. Pena que sempre entendemos os recados pela metade. Logo depois esquecemos isso e voltamos ao status quo. Lembrando que não podemos negar que nem todos estamos no mesmo espírito e que encontramos resistência. Meu ponto é que isso acontece por aqui, mas acontece em outros lugares também. Está correto vangloriar o bravo povo chinês de que é capaz de subir um hospital de 1.000 leitos em 12 dias, mas nos orgulhemos também dos vários hospitais que temos criado em estádios, ginásios e galpões inclusive com mais leitos e de forma mais rápida que os chineses. Não somos despreparados, e não somos menores diante da crise.
Tenho ouvido também pessoas falando algo do tipo “ninguém poderia imaginar que isso pudesse acontecer” mas Bill Gates em um TED em 2015 (https://www.ted.com/talks/bill_gates_the_next_outbreak_we_re_not_ready?language=pt-br) imaginou. Nós seres humanos (e de novo não somente os brasileiros) recebemos os recados, mas temos dificuldade de decodificá-los.
Estamos tendo a chance de entrar atrasados no terceiro milênio (20 anos para ser mais exato) e a mutação do coronavírus foi a forma encontrada pela natureza de dar um recado mais forte. Nizan Guanaes que está com o Covid-19 refletiu semana passada no sentido de que somos tão arrogantes que achamos que vamos salvar o planeta. Ora bolas, o planeta que passou por eras de congelamento, queda de meteoros, vulcões em erupção, sempre se adaptou e seguiu seu rumo nesses aproximadamente 4,5 bilhões de anos de idade. A natureza vai sempre se adaptar ao que lhe faz mal. E se formos nós este mal, sabemos que é uma guerra perdida. Neste sentido, precisamos nos salvar para manter o equilíbrio das coisas e isso implica incluir o outro. O coletivo me parece ser a base do novo mundo.
Acredito que tudo vai mudar muito, e o que não podemos ter dúvida neste momento é com quem vamos seguir e quem devemos ser. Afinal, faremos o que tiver que ser feito, como for possível e porque é necessário. Se acertarmos o quem, e se consideramos os outros, estaremos bem.
Roque Almeida
Sócio e fundador da Smart Inteligência Empresarial