Um dia ouvi de um português que a única coisa que o brasileiro leva realmente a sério é o carnaval e copa do mundo. Vindo de um estrangeiro, a frase foi encarada como provocação e fiquei pensando se somos mesmo resumidos a futebol e festa. Verdade que ninguém ganhou mais copas do mundo de futebol do que nós e realmente temos os melhores jogadores ao longo do desenvolvimento do esporte. Independente se você gosta ou não de carnaval é também notório de que somos conhecidos e reconhecidos em todo o mundo pela alta qualidade da nossa festa e pela diversidade das músicas e danças pelas várias regiões do Brasil. No carnaval podemos nos orgulhar da festa da Marques de Sapucaí no Rio de Janeiro ao sambódromo da capital paulista. Dos trios elétricos na Barra Ondina ao frevo em Olinda. Dos bloquinhos de carnaval ao longo de todo o Brasil, hoje em dia especialmente em Beagá. Nesta linha de pensamento temos até um ditado popular que diz que o ano só começa depois do carnaval.
Para aqueles que acreditam nisso, fica a dica: vamos começar o ano levando mesmo a sério as mudanças que precisamos fazer por aqui. Em tempos de polarizações como os de hoje, as discussões quase sempre chegam a rotulações e incompreensão. O que é razoável se formará a partir de discussões mais profundas e não podemos formar opinião apenas lendo manchetes. E não se trata aqui apenas da reforma da previdência, política, macroeconomia ou outro assunto da nação. Nas organizações as coisas se dão da mesma forma. Pouco se gasta na coleta e transformação de dados em informações. As empresas que conseguem passar deste estágio não gastam tempo suficiente analisando criticamente as informações até o ponto delas virarem conhecimento e vantagem competitiva. As manchetes estão para os noticiários assim como os relatórios ou dashboards estão para as companhias. Quando existem, dão notícias alarmantes ou “sem sentido”. Não se gasta tempo estudando para que se tire boas hipóteses e a partir daí criar um entendimento de quais premissas e parâmetros as decisões devem se pautar.
Tivemos no início deste ano algumas tragédias importantes que nos fazem pensar em como precisamos mesmo levar a sério as coisas. A tragédia de Brumadinho, onde ainda temos mais de cem pessoas desaparecidas, não pode ser apenas uma notícia triste onde de um lado a empresa entende que foi um acidente imprevisível e aleatório, e de outro as pessoas sem conhecimento de causa entendendo que a empresa tem que fechar as portas. Precisamos saber verdadeiramente o que aconteceu e os riscos que de fato ainda estamos envoltos. Com tamanha desinformação e ignorância o que presenciaremos é a possível falência de Minas Gerais, seja na mineração, seja no turismo, além de mais vidas perdidas.
Na mesma linha tivemos a tragédia dos jovens do Flamengo que sensibilizou a todos pela abrupta interrupção de sonhos tão bonitos. Como estão os demais Centros de Treinamento no Brasil? Tivemos também nos últimos dias a perda do jornalista Ricardo Boechat que era um profissional corajoso e muito querido pelos brasileiros. Por que o helicóptero rodou tantas horas de forma irregular?
A lógica por trás dessas tragédias e de outras tantas que aconteceram e estão acontecendo é a mesma. Uma burocracia paralisante junto a um improviso definitivo. Precisamos levar a sério também os motivos e as causas-raiz de cada problema deste. Alguns dessas falhas são estruturais. Precisamos também levar a sério a justiça, as leis, os colaboradores das empresas, os empreendedores que desejam mudar as coisas para o bem, os jovens sonhadores, a dor de cada família.
Para os desavisados, o ano já começou faz tempo. Muita coisa foi feita e parece que muita coisa não foi feita também. Temos quase 20% do ano percorrido e esta matemática é cruel para quem espera. Que ajamos mais pela virada no rumo das coisas por aqui do que pela esperamos pela virada do novo (velho) ano.
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