Administrar um negócio no Brasil não é tarefa fácil para os empreendedores, principalmente durante a crise financeira em que vivemos. Mas, mesmo neste momento, novos negócios podem nascer e empresas já existentes podem prosperar. Para o americano Jim Collins, um dos maiores especialistas em gestão de negócios do mundo, uma das principais características das companhias que crescem por décadas a fio, mais do que os concorrentes, é o hábito de preparar-se sempre para o pior. E, como numa descrição exata da sua teoria, José Galló, presidente da Renner, se dedicou durante anos para chegar à crise melhor do que o resto do Brasil.
Durante os anos de euforia do consumo no Brasil, diferentemente de seus principais concorrentes, que aproveitaram o aumento da demanda para crescer muito acima da média, a Renner manteve inalterado seu modelo de negócios, com roupas pouco sofisticadas, mas duráveis e a preços relativamente baixos. O resultado desse trabalho foi que, enquanto o varejo brasileiro sofreu os efeitos da recessão econômica e encolheu 8%, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), a Renner cresceu 17,4% e ampliou de 408 para 450 o número de lojas a serem abertas até 2021. A varejista também prevê chegar ao fim desse período com 130 lojas da Camicado e 300 da Youcom, que também fazem parte da rede. Além disso, a Renner começou a testar o mercado internacional, em 2017, no Uruguai, e, se o projeto der certo, novas unidades podem ser abertas em outros países da América Latina, como Chile e Argentina. Com esse desempenho, a companhia ultrapassou a C&A, líder em varejo de vestuário por décadas no Brasil e tornou-se a maior empresa do setor.
O segredo do sucesso
Os planos de José Galló são consequência de um trabalho realizado pela companhia desde os anos 90, quando era uma loja de departamentos e foi transformada em uma varejista exclusiva de moda. Hoje, a Renner mantém uma equipe de estilistas que criam as coleções vendidas em suas lojas. A companhia também mantém 12 engenheiros que auxiliam as confecções contratadas na gestão e dois centros de distribuição totalmente automatizados, que separam produtos peça por peça, para repor estoques nas lojas. Além disso, nos últimos anos, a empresa também investiu na implantação de novos softwares de gestão empresarial. Em entrevista à Valor, José Galló afirmou que essa agilidade na administração, somada a escolhas acertadas de coleções, garantem um desempenho acima da média do mercado.
Outro exemplo de sucesso é a locadora de veículos Localiza que, prevendo uma piora na economia, reduziu os custos para acumular caixa desde 2013. Desta forma, entrou em 2015 com um recorde de 1,5 bilhão de reais na conta.